terça-feira, 21 de outubro de 2025

Lacunas entre o Abismo e a sanidade

As reticências do que nunca escrever

Retroceder e apagar as cinzas

Olhar além desses galhos

Cravar minhocas

No solo infértil


Uma escada

Rumo a lugar-nenhum

Doces frutas esmagadas

Entre o chão e as pegadas

Passos e passos e passos e passos


Vi um sabiá voando ao redor da morte

Os pássaros gostam de dançar

Pertinho do perigo invisível 

Quero ser as asas dele

E me prender nos fios


Cair eletrocutada

A morte rápida e intensa

Asinhas queimadas pela energia

O espírito dele voando ao redor das flores

Amortecer dessas dúvidas-raízes passageiras 


Eu-sabiá-cantante que teima em viver

Alucinante aventura exagerada 

O drama dessas claras horas

Malfadadas e reticentes

Essa loucura fosca


O vento e as nuvens 

sonhos de voar pelo céu

Em uma alegoria da imaginação

Eu-sabiá-encantado que nunca morre

Sempre voando por entre as dimensões


(...)

domingo, 19 de outubro de 2025

Jogar as cinzas no rio

 Sobre mor.rer em novembro

Tenho pensado nos dias e na hora certa de partir, a insônia me disse que é melhor m0rrer no mês de novembro. 

Tentei brigar com ela, chorei por vários anos nessas horas da madrugada. 

E passei alguns segundos observando o passado. 
E fui olhar a criança bebê que poderia viver mais um ano. 

Intimamente odeio essa criança e odeio a adulta, odeio todas as fases da vida e odeio também as facetas da m0rte.

A m0rte abraça essa incessante vontade de odiar tudo e todos, é cansativo odiar cada resquício de si mesmo. 

Logo a exaustão te preenche e o sono vem.

Chegar nessa idade é em parte milagre e dor. 

Quando criança caí entre troncos e espinhos, meu corpo todo ficou cheio de grandes espinhos de tucumã e não senti dor, só a agonia de ver aquele pequeno corpo todo cravado de grandes espinhos. 

O desespero trás a dor, ela vem com a velocidade de um trem bala descarrilhado e cai como uma grande rocha no corpo humano. Esmaga tudo. Destroça sentimentos e transforma a nossa carne em massa ensanguentada e suja.

É difícil parar de odiar partes abandonadas da criança interna, é difícil segurar um bebê com seu rosto entre as mãos. É difícil esquecer e mais difícil lembrar. 

Não existe desejo maior do que a inexistência e o esquecimento seguro da fuga. A amnésia dos anos obscuros pela imagem ilusória de uma alegria infantil. O bucólico nascimento da inocência. 

A falta de sentido em cada verso sobre a m0rte.

Esse ano pensei em mat4r a adulta e queimar seu c0rpo, jogar as cinzas no rio Araguari e nunca mais ver nada sobre aquela sombra. 

Esse fantasma de gerações que fazem da rejeição um estandarte do amadurecer. 

Crescer dói. Viver dói. Morrer dói.

A rejeição é só um amontoado de sentenças e feridas que não cicatrizam com paliativos, a rejeição e o abandono criam raízes e crescem como a urtiga e os espinhos soltam veneno em conta gotas.

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Destino Onírico

 O berço de todas as falácias

beijos que eu deveria ter pousado

nos lábios dessa loucura intensa,

perdida, esqueci de mim 

e deitei numa cama errada.


Nem boca, nem ouvido, nem voz.

Versos que levam falhas e medos

numa jornada fantástica

dentro de um espelho,

quarto sem janelas, sem portas.


Olhamos para o abismo, eu quero pular.

Olho pra você antes de mergulhar,

não vejo nada além dessa água turva,

não vejo nada além do fundo desse rio,

você é uma lembrança do desejo.


O destino me puxou para o extremo,

afundei sozinha e você ficou a deriva,

as nossas mãos nunca estiveram

segurando as cordas do destino,

ilusão e segredos, a mentira onírica.

sábado, 4 de outubro de 2025

Precipícios

No plural e com eloquência

A minha consciência

Organiza as evidências


Os dias são bordados

E as linhas tinham vários nós

Pintei respingos da chuva


As horas tem voado

E minha memória se esvaindo

Coleciona as agulhas esquecidas


Engoli o choro para fingir sorrisos

Abraçando essas dores indelicadas

Desviando dos meus precipícios


Existe um vão no peito

O remédio é o desejo 

Impresso nos olhos


Querer se amortecer

Dentro de um precipício 

A leve pluma do eu adormecida.


terça-feira, 30 de setembro de 2025

A chuva de Anunciação

Trovoadas e chuva
Macapá se esfria
O inferno desse calor
Terrível dor e agonia

Somos como pequenas formigas
Soterradas na poeira
Vencemos a insolação
Com medo do barulho do trovão

O povo daqui é acostumado
Suporta o sol desgraçado
Enfrenta a chuva sorrateira
E convive com as ondas do Rio

Amar essa terra é tarefa árdua
De uma grande vontade tucuju
De dia um calor escaldante
De noite por milagre uma chuva 

Essa é a anunciação de Outubro
O terror nas criaturas do mato
Cada encantado trás suas lendas
E as cobras sussurram seus mitos.

🎃 (Genniffer Moreira) 🎃

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Singular amor circular.

 Escrito em 28 de agosto de 2014, faz 11 anos.

~ Para Rod Mergulhão ~

Sobrenatural é simplesmente surreal, a naturalidade expressada em cada ciclo que se movimenta no infinito azul do Nós. Velejamos pelas constelações das palavras que cantam poesia, ou a falta de poesia no coração dos humanos, demasiado humanos. Somos atraídos pelo forte desejo de sentir cada fragmento desse amor errante, similar ao boêmio que foge dos lugares comuns e comunga com as diversas particularidades que a sociedade despreza por tola ignorância, vaidade e presunção. Como é tola a sociedade, ignorante das belezas do singular amor circular repleto de verdade, como é tola a sociedade, ah, como é tola essa cidade.

Na ilusão de ser mais do que mero pedaço de terra, quer ser fronteira, território, diz até que é cidade, como é tola nessa idade. E cá estamos, querido irmão das palavras, amante dos versos, não digo 'meu' pois tu não eis mero objeto de meu desejo, eis possuidor de si, representador de tua voz, ainda assim, parte de minha alma, é outra metade de mim que nasceu com o raro talento de interpretar, o sobrenatural talento de rimar pensamentos e colorir sentimentos através dos teus sublimes poemas. Dou-te o calor que emana desse amor circulante em 'meu' peito, siga circulando o nosso amor talhado de singular geometria cíclica.

Sobre nada interessante que faça pensar nessas larvas que não conseguem tecer seus próprios casulos e maldizem versos, rimas, amor e a panapaná-cardume. Sobretudo, senti as vibrações de real pureza na totalidade de teus melodiosos versos, por tanto, agradeço-te em demasia a sobrenatural alegria de ler-te poetizar tão rara certeza azulada. Sobre tudo, sobre ser natural, sobre o amor violeta.

A realidade da depressão

 Acordar e imaginar que é um ótimo dia para morrer, dormir novamente pensando em nunca mais levantar, às vezes se ver dentro da terra e a sensação de sufocamento de estar viva parecer menos indigesta. 

É uma sucessão de sentimentos que levam ao mesmo lugar. 

Os dias são cinzentos, os meses são como uma eternidade e os anos são como a certeza de que a vida não tem cor. 

As coisas vão se escurecendo e escurecendo até que com o passar dos anos você entende que não precisa mais continuar.

Não existe mais importância no amanhã, não existe nenhum outro desejo além da certeza de que tudo é insignificante, só existe um pensamento fixo e intrusivo que se torna a realidade. 

Só existe o conforto de envelhecer e partir, assim, a realidade da depressão é que a melhor conclusão é sumir.

As pessoas depressivas escolhem a invisibilidade e a costumeira alegria do sono por não suportar os dias, sobreviver aos dias é como entrar num furacão. 

Todos os dias nessa imensidão de vidas barulhentas, as outras pessoas são barulhentas, o mundo é barulho e cheio de tempestades furiosas, a depressão te faz odiar tudo isso em segundos.